Quando me virei, vislumbrei apenas a mancha rubra e desfocada do casaco que se afastava lentamente. Caminhavas cabisbaixa, e em ritmo pausado, embrenhada possivelmente, na desilusão de não teres concretizado os teus sonhos, ou de não teres descoberto em mim a reciprocidade dos teus gestos.
Desapareceste, por fim, no meio da multidão que fervilhava na praça. Não voltei a ver o teu rosto para poder avaliar o teu semblante. Talvez tivesse descoberto a amargura das lágrimas que brotam dos corações oprimidos pela tristeza.
Prossegui o caminho rumo ao meu próprio destino, levando-te no pensamento, e recordando os curtos mas agradáveis momentos que a tua companhia me proporcionou.
Vieram-me à memória as tuas mãos geladas, e o olhar brilhante cada vez que procuravas as minhas para as aquecer. Lia no teu olhar a ansiedade de cada encontro, e o confronto da realidade e do sonho.
Sentados à mesa do café esquecíamos, por momentos, a refeição que tínhamos na frente até que as nossas mãos irrequietas se encontrassem novamente.
Na profundidade dos teus olhos ia descobrindo a chama do desejo que, lentamente, despertava os teus sentidos.
No jardim, alheavas-te dos olhares transeuntes que nos observavam, e roubavas-me inúmeros beijos timidamente retribuídos por mim, em gestos carinhosos mais discretos.
Não foi fácil conter o entusiasmo desses momentos, nem manter os pés firmes no chão, quando as asas só nos queriam elevar às nuvens. Mas o tempo precipitava a hora da despedida.
O último abraço, e os beijos mais ansiados, foram trocados no desespero daquela separação. Ambos pressentíamos que aquele encontro não voltaria a repetir-se.
As palavras ficaram-me presas na emoção do adeus que nos separou, mas a esperança de um reencontro permanece acesa.
José Santos
